Por volta do ano 1000, por motivos ainda ignorados, iniciou uma
migração de indianos em direção ao Ocidente. Nada se sabe sobre
estes primeiros migrantes, mas depois de passarem pela Pérsia e
pela Turquia, no Século XIII, sua presença já é registrada na
Grécia e em outros paises balcânicos. A partir do início do
Século XV migram para a Europa Ocidental, onde geralmente dizem
ser originários do “Pequeno Egito”, então uma região da Grécia,
mas pelos europeus confundida com o Egito, na África. Por isso,
em vários países chamavam-os de “egípcios” ou “egitanos”,
de que derivam, os termos gypsy (inglês), gitan (francês),
gitano(espanhol).Mas sabemos que outros grupos se apresentaram
como gregos ou atsinganos, como então eram chamados na Grécia,
pelo que também ficaram conhecidos como ciganos ( português ),
tsiganes(francês),zigeuner(alemão/holandês),zingari (italiano).
Hoje os ciganos, no entanto, costumam usar autodenominações
completamente diferentes e distinguem pelo menos três grandes grupos:
- os Rom, ou Roma, que falam a língua romani; são divididos em
vários sub-grupos, com denominações próprias, como os Kalderash,
Matchuaia, Lovara, Curara, Ursari e.o.; são predominantes nos
países balcânicos, mas a partir do Século XIX migraram também
para outros países europeus e para as Américas, inclusive para o
Brasil;
- os Sinti, que falam a língua sintó e são mais encontrados na
Alemanha, Itália e França, onde também são chamados Manouch;
- os Calon, ou Kalé, que falam a língua caló, os “ciganos ibéricos”,
que vivem principalmente em Portugal e na Espanha, mas que no
decorrer dos tempos se espalharam também por outros países da
Europa e foram deportados ou migraram inclusive para a América do Sul.
Quase nada sabemos sobre os ciganos brasileiros na atualidade.
As pesquisas até agora realizadas no Brasil provam a existência de
ciganos de pelo menos dois grupos diferentes: os Calon que foram
degredados ou migraram voluntariamente para o país, já a partir do
Século XVI, e os Rom que vieram para o Brasil somente a partir de
meados do Século XIX.[1] Nenhuma publicação trata de ciganos Sinti,
mas que com certeza também devem ter migrado para o Brasil, junto
com os colonos alemães e italianos, a partir do final do Século XIX.
Nada, mas absolutamente nada, sabemos sobre o número de ciganos
nômades, semi-nômades e sedentários atualmente existentes no Brasil,
nem sobre sua distribuição geográfica. Há quem, sem apresentar
quaisquer provas, fala até na existência de 800 mil ou 1 milhão de
ciganos no Brasil. No entanto, quaisquer estimativas sobre a população
cigana brasileira não passam de meras fantasias. No Brasil, até hoje,
nem o IBGE ou outra instituição de pesquisa demográfica, nem
cientista algum tem feito um levantamento da população cigana.
Na Europa, onde vive a maioria dos ciganos, os dados demográficos são
igualmente duvidosos, mas de um modo geral estima-se que sua população
está em torno de 10 a 15 milhões de pessoas. Os países com maiores
populações ciganas são a Romênia (1.800 a 2.500.000),
Bulgária (700 a 800.000), Espanha (650 a 800.000) e Hungria (550 a 600.000).
Desde sua chegada na Europa Ocidental, os ciganos têm sido vítimas
de políticas anti-ciganas, em todos os países por onde passaram.
“Cigano” virou palavrão; ser “cigano” virou crime, o que em muitos países significava a condenação à morte. Ainda em pleno Século XX,
os nazistas exterminaram cerca de 500.000 ciganos, um holocausto que os historiadores preferem esquecer.
Somente a partir da década de 60, com a crescente unificação da Europa,
começam a surgir as primeiras políticas pró-ciganas, em documentos do
Conselho da Europa e da União Européia. E também os ciganos, pela
primeira vez na história, começam a reivindicar os seus direitos e a denunciar.
Ainda vai levar algum tempo para estas novas idéias e políticas ciganas
e pró-ciganas conseguirem atravessar o Atlântico e ficarem também
amplamente conhecidas e discutidas no Brasil, não apenas por políticos
e juristas, mas também por antropólogos e outros cientistas da área humanística.
Este ensaio tenta apenas contribuir para uma maior divulgação, no
Brasil, das políticas pró-ciganas e das reivindicações ciganas
européias, quase sempre divulgadas em publicações de difícil ou
impossível acesso para os juristas e cientistas sociais brasileiros,
porque inexistentes em qualquer biblioteca universitária ou biblioteca
pública. Por este motivo, vários documentos serão amplamente transcritos.
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[1]. Veja R. Corrêa Teixeira, História dos ciganos no Brasil, Recife, Núcleo de Estudos Ciganos, 1999, 140pp.; E. M. Lopes da Costa, “O Povo Cigano e o espaço da colonização portuguesa – que contributos?”, IN: A. Gómez Alfaro, E.M. Lopes da Costa e Sh. Sillers Floate, Ciganos e degredos, Lisboa, Centre de Recherches Tsiganes / Comissão Européia, 1999, pp. 49-92
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